FUI VER ESTE FILME, NO PASSADO DIA 2007.03.03 NA SALA1, PELAS 21:40, NA CASTELLO LOPES CINEMAS DO PARQUE ATLÂNTICO, EM PONTA DELGADA, NA DOCE COMPANHIA DO MEU AMOR
Em "Babel", Alejandro González Iñárritu ("21 Gramas", "Amor Cão", "E a Tua Mãe Também") constrói, sem complacências, de uma forma crua, brutal e eficaz, uma teia de quatro histórias onde o amor, a desconfiança e as dificuldades de comunicação estão omnipresentes. Um incidente trágico é o ponto de ligação entre elas e o pretexto para falar da discriminação, do choque civilizacional e da paranóia colectiva em que o mundo global mergulhou depois do 11 de Setembro. Um feito, se tivermos em conta que nada soa forçado neste mosaico de narrativas que atravessa 3 continentes e 4 países. O filme arranca nas areias longínquas do deserto marroquino, onde uma família local negoceia uma espingarda, enquanto dois miúdos irmãos se entretêm a treinar a pontaria com o novo "brinquedo". Num mundo completamente diferente, algures nos Estados Unidos, duas crianças também brincam mas, desta vez, num apartamento confortável. Acompanhados pela sua ama mexicana, Amelia, eles aproveitam a ausência dos pais que partiram de férias para Marrocos para tentar salvar um casamento periclitante. As correrias são interrompidas pelo telefonema do pai a avisar que vai demorar mais do que o que estava previsto, e a dar uma notícia que só mais tarde vamos perceber. A próxima paragem é no Japão onde vive uma adolescente surda-muda revoltada e rebelde que tem dificuldade em relacionar-se com os seus pares que não conhecem o seu mundo feito de silêncio e o luto que tenta fazer. Há ainda tempo para cruzar a fronteira até ao país natal do realizador, o México, e para alguma ironia nesta visita a um território que, segundo dizem as crianças americanas, os pais (Cate Blanchett e Brad Pitt) consideram perigoso, talvez por ter "muitos mexicanos". Um tiro de espingarda e um acidente vão despoletar o desenvolvimento de todas estas histórias e interligá-las. Separados por choques culturais e distâncias desiguais, cada um destes grupos, avança tumultuosamente para um destino comum de isolamento e de dor. Em poucos dias, cada um deles enfrenta a sensação vertiginosa de estar verdadeiramente perdido, enquanto são empurrados para um estado de confusão e de medo mas também para as profundezas das relações e do amor. Filmado em três continentes e em quatro línguas, "Babel" coloca o dedo na ferida, explorando com um realismo esmagador a natureza das fronteiras que parecem separar a humanidade. Invoca assim o conceito antigo que lhe dá nome e questiona as suas implicações nos tempos modernos: identidades incompreendidas, interpretações erradas e oportunidades perdidas de comunicação parecem mover as vidas contemporâneas. De resto há uma frase dita por Iñárritu que parece resumir a ideia-chave do filme: "Falamos de fronteira como apenas um lugar, em vez de uma ideia. Acredito que as verdadeiras fronteiras são aquelas que existem dentro de nós". O cineasta deixa-nos, ainda assim, com um final redentor colocando a família e os laços afectivos que, a custo conseguimos estabelecer com o outro, como derradeiros portos de abrigo. Com um elenco internacional e em plena forma, onde se destacam Brad Pitt, Cate Blanchett, Adriana Barraza e Rinko Kikuchi, o novo filme de Iñarritu recebeu por mérito próprio os galardões de melhor realizador, do Júri Ecuménico e o grande prémio técnico no último Festival de Cannes, estando nomeado em 7 categorias nos Globos de Ouro. Com uma imagem vincada e próxima do grafismo; uma visão cínica e esclarecida da realidade e a inclusão de uma série de dispositivos cénicos hábeis, que reforçam a identificação do espectador com todas as personagens, entre muitas outras qualidades, não se livra de ser um dos filmes obrigatórios de 2006.
in http://www.estreia.online.pt
Em "Babel", Alejandro González Iñárritu ("21 Gramas", "Amor Cão", "E a Tua Mãe Também") constrói, sem complacências, de uma forma crua, brutal e eficaz, uma teia de quatro histórias onde o amor, a desconfiança e as dificuldades de comunicação estão omnipresentes. Um incidente trágico é o ponto de ligação entre elas e o pretexto para falar da discriminação, do choque civilizacional e da paranóia colectiva em que o mundo global mergulhou depois do 11 de Setembro. Um feito, se tivermos em conta que nada soa forçado neste mosaico de narrativas que atravessa 3 continentes e 4 países. O filme arranca nas areias longínquas do deserto marroquino, onde uma família local negoceia uma espingarda, enquanto dois miúdos irmãos se entretêm a treinar a pontaria com o novo "brinquedo". Num mundo completamente diferente, algures nos Estados Unidos, duas crianças também brincam mas, desta vez, num apartamento confortável. Acompanhados pela sua ama mexicana, Amelia, eles aproveitam a ausência dos pais que partiram de férias para Marrocos para tentar salvar um casamento periclitante. As correrias são interrompidas pelo telefonema do pai a avisar que vai demorar mais do que o que estava previsto, e a dar uma notícia que só mais tarde vamos perceber. A próxima paragem é no Japão onde vive uma adolescente surda-muda revoltada e rebelde que tem dificuldade em relacionar-se com os seus pares que não conhecem o seu mundo feito de silêncio e o luto que tenta fazer. Há ainda tempo para cruzar a fronteira até ao país natal do realizador, o México, e para alguma ironia nesta visita a um território que, segundo dizem as crianças americanas, os pais (Cate Blanchett e Brad Pitt) consideram perigoso, talvez por ter "muitos mexicanos". Um tiro de espingarda e um acidente vão despoletar o desenvolvimento de todas estas histórias e interligá-las. Separados por choques culturais e distâncias desiguais, cada um destes grupos, avança tumultuosamente para um destino comum de isolamento e de dor. Em poucos dias, cada um deles enfrenta a sensação vertiginosa de estar verdadeiramente perdido, enquanto são empurrados para um estado de confusão e de medo mas também para as profundezas das relações e do amor. Filmado em três continentes e em quatro línguas, "Babel" coloca o dedo na ferida, explorando com um realismo esmagador a natureza das fronteiras que parecem separar a humanidade. Invoca assim o conceito antigo que lhe dá nome e questiona as suas implicações nos tempos modernos: identidades incompreendidas, interpretações erradas e oportunidades perdidas de comunicação parecem mover as vidas contemporâneas. De resto há uma frase dita por Iñárritu que parece resumir a ideia-chave do filme: "Falamos de fronteira como apenas um lugar, em vez de uma ideia. Acredito que as verdadeiras fronteiras são aquelas que existem dentro de nós". O cineasta deixa-nos, ainda assim, com um final redentor colocando a família e os laços afectivos que, a custo conseguimos estabelecer com o outro, como derradeiros portos de abrigo. Com um elenco internacional e em plena forma, onde se destacam Brad Pitt, Cate Blanchett, Adriana Barraza e Rinko Kikuchi, o novo filme de Iñarritu recebeu por mérito próprio os galardões de melhor realizador, do Júri Ecuménico e o grande prémio técnico no último Festival de Cannes, estando nomeado em 7 categorias nos Globos de Ouro. Com uma imagem vincada e próxima do grafismo; uma visão cínica e esclarecida da realidade e a inclusão de uma série de dispositivos cénicos hábeis, que reforçam a identificação do espectador com todas as personagens, entre muitas outras qualidades, não se livra de ser um dos filmes obrigatórios de 2006.
in http://www.estreia.online.pt
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